A pista de Dacar parece não ter fim sob a "Princesse des Étoiles". A subida é laborista, o avião sobrecarregado, repleto de combustível, para 3.200km e 14 horas de travessia previstos. O estrépido dos motores é abafadopelo matagal. A costa do continente africano não é mais que uma sombra. Os olhares da tripulação se espalham sobre uma extensão coberta de ardósias, um expaço, inteiramente azul acinzentado, de contornos imprecisos: é o grande reflexo ondulado do Atlântico Sul. Bem mais adiante, há uma massa cheia de nuvens de 100 quilômetros de comprimento e mais de 5.000m de altura. Trata-se do Pot au Noir, uma região de caos, de trevas e de turbulências infernais.
No interior do avião reina um silência de tumba. O calor da cabine é sufocante, além de úmido. O barulho dos motores e a fascinação que exerce este "buraco das tempestades" isolam os membros da tripulação uns dos outros. Como se o velho hidroavião estivesse atravessando as fileiras de um exército hostil, porém indiferente.
Enquanto se desvia da temível massa negrade nuvens, que vai ficando para trás do avião, chega o momento de prestar homenagem ao mais ilustre dos pilotos franceses: Jean Mermoz.
Franklin Devaux reuniu, em uma caixa metálica, suas lembranças - a foto de Mangaby (apelido com que Mermoz chamava sua mãe), a foto de Mermoz e dos componentes de sua equipe, Dabry e Gimié, depois da travessia do Atlântico, o livro de Kessel (Mermoz), uma carta dos pilotos explicando as razões e os objetivos pedagógicos deste vôo... Baudry inclina o aparelho 15 graus, o blister esquerdo está aberto, os vapores do oceano dragam a caixa largada... à memória de Mermoz e sua tripulação, desaparecidos em 07 de Dezembro de 1936 a bordo do Laté 300 "La Croix du Sud"...
Continua!
0 comentários:
Postar um comentário